domingo, 9 de maio de 2010

Mão-Dupla

Não chove? chove? não chove?
Enquanto decido as gotas na vidraça
Nunca me deixam dormir
Estilhaços no caminho
E caminhões vão carregados
De frutas brancas
De armas brancas
De pó branco

Desconstruir o que? Desassossego
E dor e dúvidas e sombras
Sobre o meu guarda-chuva de contas.

Já passa das oito
A rua deve estar deserta
Ou repleta? Enquanto decido as sombras
Acalmam meus pesadelos
E raramente deixam-me acordar.

Afinal de contas, chegamos
A um acordo ou ao fundo do poço?
Fomos tecidos pela seda
Do mesmo picumã. Estás desperta?
Dormindo? Eu nunca me decido.

Mas a estrela some e rompe a clara
Manhã, com a escura gema do sol claro.
Estou farto, é claro, mas é tempo
De deitar-me agora à cama (gostaria
Que estivesses do meu lado) e ser coberto
Pelo fino gradeado
Que beira a rua por onde transito
Muitas vezes imóvel, outras aflito
Onde faróis revelam e a fumaça oculta
A placa curta indicando
Que você não vá
(e eu gostaria que não fosses nunca)
Por essa via das dúvidas.

Um comentário:

Unknown disse...

que coisa linda de deus... S2